HOMENAGEM LUCIA MURAT
Lucia Murat é nossa a grande homenageada em 2021. A cineasta, ao longo de sua trajetória de quase quatro décadas, tem abordado questões que discutem as lutas de mulheres em suas obras, nos contextos mais variados. Nesse sentido, a atuação de mulheres na militância política em defesa da democracia no país assume papel importante em algumas de suas criações. Murat iniciou a carreira como jornalista para veículos de comunicação do Rio de Janeiro. Em 1971 foi presa e barbaramente torturada. As lembranças dos porões da ditadura foram exploradas em seu longa-metragem de estreia Que bom te ver viva, de 1989, premiado nos festivais de cinema de Havana, do Rio de Janeiro e de Brasília.
Em 2013, a cineasta prestou depoimento para a Comissão da Verdade em que descreve com detalhes as torturas sofridas durante a prisão, apontando o nome dos torturadores. Esse depoimento foi considerado fundamental para a conclusão do relatório.
As temáticas da luta social e resistência indígena também constituem pontos importantes em suas obras, haja vista a produção de longas como Brava gente brasileira (2000); Maré, nossa história de amor (2007); A nação que não esperou por Deus (2015); e Ana (2020) – além da série documental Vestígios do Brasil (2019).
Essa trajetória de lutas políticas e sociais, além das brilhantes produções cinematográficas, fizeram de Lucia Murat uma grande referência do cinema brasileiro. Ao lado de Tizuka Yamasaki – homenageada na edição da Mostra Audiovisual do Fazendo Gênero 10 – e Suzana Amaral, e muitos anos após os filmes de Cléo de Verberena, na década de 1930, a cineasta carioca é pioneira entre as mulheres no campo cinematográfico do país.
Podemos conferir um pouco de sua história nos filmes e na conversa que serão apresentados no decorrer da programação da Mostra Audiovisual. Que bom te ver viva (1989) apresenta as memórias de uma mulher presa e torturada durante a ditadura militar no Brasil. A trama é entrecortada por depoimentos com histórias reais de oito mulheres que passaram por essa situação no período. Temática que é retomada em A memória que me contam (2012), em que a morte de uma personagem reúne antigas/os amigas/os, ex-militantes que entraram em combate com o regime institucionalizado após o golpe de 1964. Por fim, o filme Em três atos (2015) intercala ficção e não ficção ao criar uma narrativa sobre o corpo, contrapondo juventude e velhice, através da dança. Trata-se da proposta de um ensaio poético com a reprodução de textos de Simone de Beauvoir.
Homenageadas nas edições anteriores:
Mari Côrrea (2017)
Tizuka Yamasaki (2013)
Trinh Minh-ha (2010)
Jocy de Oliveira (2010)
Ana Carolina Teixeira Soares (2008)
Filmes exibidos (ficarão a disposição da mostra por 24 hrs a partir do início da sessão):
Exibição: 1º de março às 19h pelo canal do NAVI Ano: 1989 O filme aborda a tortura durante o período de ditadura no Brasil, mostrando como suas vítimas sobreviveram e como encaram aqueles anos de violência duas décadas depois. “Que Bom Te Ver Viva” mistura os delírios e fantasias de uma personagem anônima, interpretada pela atriz Irene Ravache, alinhavado os depoimentos de oito ex-presas políticas brasileiras que viveram situações de tortura. Mais do que descrever e enumerar sevícias, o filme mostra o preço que essas mulheres pagaram, e ainda pagam, por terem sobrevivido lúcidas à experiência de tortura. Para diferenciar a ficção do documentário, Lúcia Murat optou por gravar os depoimentos das ex-presas políticas em vídeo, como o enquadramento semelhante ao de retrato 3×4; filmar seu cotidiano à luz natural, representando assim a vida aparente; e usar a luz teatral, para enfocar o que está atrás da fotografia – o discurso inconsciente do monólogo da personagem de Irene Ravache. Créditos – Montagem: Vera Freire – Fotografia: Walter Carvalho – Som direto: Heron Alencar – Diretor-assistente: Adolfo Orico Rosenthal – Direção de produção: Kátia Cop e Maria Helena Nascimento – Cenografia e figurino: Beatriz Salgado – Música original: Fernando Moura – Trilha sonora: Aécio Flávio – Roteiro, e direção e produção executiva: Lúcia Murat – Distribuidora Nacional: Taiga Filmes e Video – Distribuidora Internacional para os EUA: Woman Make Movies. |
Exibição: 14 de março às 19h pelo canal do NAVI Atores: “Em três atos” se insere no quadro de um filme entre a ficção e a não ficção, uma proposta de ensaio poético que vem explodindo no cinema mundial. O limite cada vez mais tênue entre ficção e documentário vem permitindo que se trabalhe sem enquadramentos preconcebidos. O filme trata de finitude e continuidade, velhice e juventude trabalhando com o corpo, através da dança contemporânea e com a palavra, em textos de Simone de Beauvoir. A dança, coreografada por João Saldanha, é ao mesmo tempo uma homenagem a Angel Vianna, um ícone da dança contemporânea brasileira, que participou do filme aos 85 anos. Angel dança com Maria Alice Poppe, sua ex-aluna, que está no auge do seu vigor. A esse espetáculo de dança, que faz um contraponto sem clichês entre esses dois corpos, se agrega os textos de Simone de Beauvoir interpretados por Nathalia Timberg e Andrea Beltrão. Esses textos são livremente inspirados em entrevistas da autora, nos livros “A velhice” e “Uma morte muito doce”, em que a escritora escreveu sobre a morte da mãe. Realizado em parceria com a TSProductions, com quem a Taiga já co-produziu “Quase Dois Irmãos”, o filme conta com o apoio francês de Milena Poylo e Gilles Sacoud, responsáveis pela negociação com a Editora Gallimard, detentora dos direitos de Simone de Beauvoir. Créditos – Direção e roteiro: Lucia Murat – Baseado em textos de Simone de Beauvoir e no espetáculo “Qualquer coisa a gente muda” – Coreografia: João Saldanha – Produção: Lucia Murat, Milena Poylo, Gilles Sacuto, Celine Loiseau – Diretor de fotografia: Dudu Miranda – Diretor de arte: Cedric Aveline – Montagem: Mair Tavares e Marih Oliveira – Trilha Sonora: Sacha Amback – Edição de som: Simone Petrillo – Som direto: Jose Moreau Louzeiro – Mixagem: Emmanuel Croset – Colorista: Fabio Souza – Coprodução: TS Production. |
A memória que me contam (Trailer) Exibição: 21 de março às 19h pelo canal do NAVI Atores: Ana está morrendo. Ex-guerrilheira e um ícone da esquerda, ela é o último elo de um grupo de amigos que resistiu à ditadura militar no Brasil. Na sala de espera de uma casa de saúde, eles se reencontram. Utopias falidas, terrorismo e liberação sexual sob o ponto de vista de duas gerações, um grupo de ex-guerrilheiros e seus filhos, são os temas deste filme. Narrado como um quebra-cabeça, o filme mostra Ana apenas quando jovem, em flashback, como se ela nunca tivesse saído dos anos 60. Jovem , linda e perigosamente frágil. Créditos – Direção: Lucia Murat – Produção: Adrian Solar, Felicitas Raffo Julia Solomonoff e Lucia Murat – Produção Executiva: Daniel Lion, Denis Feijão e Martha Ferraris – Roteiro: Lucia Murat e Tatiana Salem Levy – Fotografia: Guillermo Nieto – Montagem: Mair Tavares – Direção de produção: Daniela Santos – Direção de arte: Ana Rita Bueno – Figurino: Inês Salgado – Som direto: José Moreau Louzeiro – Edição de som: Simone Petrillo – Mixagem: Emmanuel Croset – Música: Diego Fontecilla – Coprodutores: Bonfilm, Elixir Entretenimento, Locall, Universo Imagem. |