Ensaios Participantes

Fazendo Gênero 13, que ocorrerá de 29/07/2024 a 02/08/2024, em Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC

Afetividades às/das Masculinidades Embucetadas ou AUTO-AMOR

Taliboy (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ)

Ano de produção: 2024

Quantidade de fotos: 10

Falar sobre essa série de intervenção urbana das “Afetividades às/das Masculinidades Embucetadas ou AUTO-AMOR” é falar sobre o meu agir no mundo e de como não está dissociado da minha forma de prever e receber esse mesmo mundo! Ou seja, sua violência e rompantes afetivos!!! Há mais de 15 anos atrás, resolvi responder a esses rompantes de forma a tentar nomear ou me aproximar do dano que tanto me afligia – as OPRESSÕES!!! De lá pra cá a viagem foi longaaaaa, me envolvi com os movimentos sociais, principalmente do Feminismo e suas diferentes vertentes, assim como me aproximei das Artes Visuais e da possibilidade de dar título à obra, isso foi sem dúvidas, o que mais achei libertador, sabia que dessa junção poderia chegar junto daquele bolo preso na garganta. E assim, construí uma prática visual urbana que me possibilita reelaborar o caos violento e afetivo que tanto me impacta em coletivo, as questões/dilemas das identidades e da luta política por ‘entre’ as afirmações e subversões das mesmas. EU ❤️ TALIBOY, é mais um RAPAZ das Masculinidades Embucetadas que se questiona se HÁPAZ NA PALESTINA – porque se não há PAXXLESTINA, não pode haver PAXX em canto nenhum!!!

AutopARTEs defiça

Juliana Cavalcante Marinho Paiva (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC)

Ano de produção: 2024

Quantidade de fotos: 8

O ensaio é autobiográfico, composto de auto-retratos de uma mulher com deficiência física. As fotografias se relacionam com a temática da deficiência e perpassam a história de uma apropriação do sujeito político. Especificamente, a mudança do status de ser apenas descritivamente pessoa com deficiência, para ser politicamente mulher com deficiência, tal como defende a autora Mia Mingus.

O ensaio fotográfico conta a história de uma mulher com deficiência que como outras mulheres com deficiência, recebe estigmas sociais negativos, cortantes e perfurantes do corpo e da auto estima, que tenta se adaptar à normatividade remendando seu próprio corpo. E por meio de leituras feministas, dos estudos da deficiência e do ativismo, ela passa a ter uma compreensão de si enquanto uma defiça, termo usado pelos ativistas brasileiros da deficiência para falar de si mesmos. Uma mulher defiça, que tem sexualidade e sabe disso, ao contrário de uma suposta assexualidade da deficiência difundida socialmente. Uma mulher que é interdepende das pessoas e de tecnologias assistivas como órteses, não com seu uso compulsório, mas com possibilidade de escolha e autodeterminação de como viver sua vida.

Corpo-inço: Resistência e Metamorfose através do autorretrato fotográfico

Audrian Vinicius Cassanelli Griss (Prefeitura de Chapecó)

Ano de produção: 2021-2023

Quantidade de fotos: 10

Tem suas raízes na minha origem do interior e se apoia na observação de inços existentes nos entornos das monoculturas da localidade de Xanxerê-SC. Os inços resistem e se adaptam a condições hostis à vida e fazem confluência com minha existência diferente das demais onde meu corpo é visto como um inço. Assim, corpo-inço é um corpo pensado através da arte numa poética que busca verificar possíveis relações dos inços com o corpo do artista que, indesejado no seu meio, resiste. Com a fotografia digital, realizo autorretratos que, hibridizados, vejo eu mesmo como outro. A realidade se confunde com o imaginário do artista nas séries realizadas nesta pesquisa poética. A tecnologia atual facilita assimilações e atravessamentos que mudam os paradigmas da fotografia contemporânea e, por outro lado, submete-nos aos efeitos da tecnologia nos tornando híbridos no uso dos aparatos tecnológicos. No meu trabalho, essa relação com a tecnologia viabiliza o processo de instauração de uma obra onde o corpo hibridizado evoca a resistência relativa ao descaso, ao preconceito em ousar ser diferente, ser LGBTQIAP+ no interior de um estado conservador.

Corpos D’água

Débora Klempous Corrêa (Universidade de São Paulo – USP)

Ano de produção: 2023

Quantidade de fotos: 10

Como seres compostos maioritariamente por água, todos nós, humanos e não humanos – corpos aquáticos mais que humanos – carregamos a capacidade de nutrir e proliferar a vida a partir da nossa carne oceânica. Todos os corpos d’ água devem sua existência à gestação num meio aquático, mas perdura a insistência em vincular esse modo de ser gestacional da experiência humana com a figura da mulher, dentro de um movimento biologicamente essencialista e heteronormativo, e segundo uma oposição binária que coloca também a natureza como passiva.

Estamos constantemente imersos em ambientes aquosos, mesmo o solo e o ar – saturados de umidade –, que não são pano de fundo para uma ação dita masculina rasgar com violentas e largas braçadas, pois não há um embaixo, não existe um em cima. O meio não é separado das entidades que o habitam, não é fundo passivo de onde podem ser fisgados corpos, casas, conchas e crenças. É barco que, desenfreado, afunda.

Depois da meia noite

Leani Jaline Ferrari Ferreira (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP)

Ano de produção: 2024

Quantidade de fotos: 6

“Depois da meia noite” é uma série fotográfica que procura explorar as nuances da juventude atual na noite, principalmente, em festas e nas casas de shows. Buscando investigar as texturas, cores e técnicas fotográficas para alientar as narrativas e a identidade desses jovens inseridas no ambiente a fim de construir um universo estético potente. Pesquisando a imagem menos nítida, com menos pixels, e mais ruidosa desse aparelho fotográfico, os objetos se adensam nas camadas pelo uso técnico: no uso da longa exposição, exploração das cores, e da história contada em cada fotograma. Discutindo o olhar sobre a identidade desses corpos e sua existência transpassando a superfície fotográfica individualmente, e no conjunto da série fotográfica. E interseccionando a comunicação com as mídias, mas também materializando futuros a existência desses corpos em cena, que conversam com outros no ambiente universitário em suas próprias vivências e existência. E mais, a juventude e suas vivências de forma plural, nos ambientes que podem ser a si próprios. Com liberdade e pluralidade. Discutindo não só o dispositivo, mas um universo futuro e estético de quem somos hoje e para quem seremos adiante.

Escrava Anaesté[si~ti]ca: libre!

Ariska Derìì da Costa Lopes (Universidade Federal do Amazonas – UFAM)

Ano de produção: 2023

Quantidade de fotos: 5

A presente releitura é um manifesto contra as mordaças. A corpa em tela, mesmo calada e amarrada, versa a respeito do uso da estética como munição dentro de estratégias de transfabular a vinda, as voltas e a vida encantada de uma corpa travesty. Por meio da imagem de Anastácia nos declaramos livres para berrar, não somente pela boca, mas sim com o corpo todo. Trata-se de um empenho estético ao resgate ancestral; contra a estática imposta pelas anestesias e eutanásias com as quais o CIStema-mundo insiste em forjar suas necropoliticagens. [OBS: no link do drive com as fotos há um pdf com o formato no qual este manifesto foi elaborado, a ideia é que, se possível, seja mantida, a fim de preservar a narrativa]

Gorda & Sapatão

Paula Silva de Moraes Mello ( SENAC SP)

Ano de produção: 2020-2023

Quantidade de fotos: 7

Corpa. Gorda. Dissidente. Abjeta.

Viver como gorda e sapatão, numa sociedade sexista e heteronormativa traz implicações cotidianas. Os sentimentos vão além da gordofobia médica, da exclusão estrutural (quantas vezes nos perguntamos se caberemos em uma cadeira?) onde até o movimento LGBTQIA+ exclui corpos dissidentes, cria categorias para homens gays e gordos – ursos – mas mulheres gordas e sáficas, quem são? A fetichização traz a padronização de como o corpo feminino deveria ser. Como ser um corpo que gera nojo?

O lambe “Gorda e Sapatão” traz um autorretrato da autora, destacando seu corpo não normativo, impresso e colado em paredes das cidades de Marília e em São Paulo, acompanhado da frase-gatilho “Gorda & Sapatão”. O registro da primeira intervenção foi feito na manhã após as colagens. O segundo, uma semana após. Os registros da “interação” trazem a repulsa expressa. Da noite para o dia, de uma semana para outra, a violência se expande e tira de vista uma corpa gorda e dissidente. Ninguém aguentaria ver e lidar com essa identidade ali exposta na rua. A sequência de fotografias aproxima cada vez mais, ampliando o incômodo que um/a corpo/a-identidade causa pelo simples existir.

Las Crudas: meninas negras tornando-se mulheres negras no Brasil e em Cuba

Antonia Gabriela Pereira de Araujo (Harvard University)

Ano de produção: 2021

Quantidade de fotos: 6

Essa amostra visual investiga como as artes marciais medeia a produção de um modo de ser, viver e se relacionar com o mundo em que as meninas negras cubanas e brasileiras denominam de um recurso corporal chamado “criar forças”. Criar forças é, também, um recurso técnico desenvolvido pelas competidoras de artes marciais para viver em contextos de extremas desigualdades, violências, traumas e dor decorrentes das tensões de estruturas raciais. As imagens desse editorial visual registram meninas tornando-se mulheres negras em dois contextos etnográficos, sendo eles um na Comunidade da Maré (Rio de Janeiro, Brasil) e o outro em San Miguel de Padrón (Havana,Cuba). A amostra traz materiais visuais de situações cotidianas que envolvem maneiras de produzir “corpos crudos” em solares, quintais, casas, ruas, ginásios e academias de boxe. A proposta tem como objetivo oferecer através de um contraponto entre imagens, textos e contextos etnográficos como as experiências cotidianas de “enfrentamento”, “resistëncia” e “superação” causados pelas tensões das estruturas de gênero, classe, território, geração e “raça” podem moldar corpos, subjetividades, estruturar sentidos e prescrever desejos.

Língua de Fogo

Monique Burigo Marin (Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC)

Ano de produção: 2022-2024

Quantidade de fotos: 3

“Língua de Fogo” é um estudo nos arquivos da memória familiar, que inclui uma série fotográfica, vídeos e entrevistas sobre as memórias das mulheres da minha família. Como uma conversa ao redor do fogo, evocamos tempos passados, lembramos daqueles que não estão mais conosco e refletimos juntas sobre os papéis femininos passados e presentes, e sobre os possíveis futuros.

Nessas conversas, surgem discursos alegres e tristes, e muitas vezes há uma ligação direta com a língua e o fogo: “Depois que me casei, me apaguei. Não tinha mais vontade de falar… acabei com a minha vida”. Na busca por reacender o que se apagou e na tentativa de cauterizar as feridas que tocamos durante essas conversas, são realizadas foto performances coletivas, onde há espaço para o silêncio e para expressar, com o corpo, o que não pode ser dito com palavras.

Durante meu período de doutorado sanduíche na Itália, que ocorreu entre setembro de 2023 e maio de 2024, realizei este projeto nos cemitérios das cidades de onde vêm minhas antepassadas: Soverzene e Cesiomaggiore. E, em Bologna, cidade onde morei, também tive a participação de amigas brasileiras que, em terras distantes, se tornaram minha família.

Mães Universitárias

Luz Mariana Blet (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC)

Ano de produção: 2024

Quantidade de fotos: 10

A maternidade é uma categoria bastante invisibilizada na universidade. Mas será que é possível falar que a maternidade é uma categoria, ou seria melhor falar em maternidades – diversas, plurais e que não necessariamente se encaixam em um padrão. Este nunca foi um tema de pesquisa pra mim. Até que um dia retornei à universidade, sendo mãe, e a maternidade passou a exercer uma influência significativa na minha vida (não apenas) acadêmica.

Apesar das diferentes experiências, há questões recorrentes na vida das mães universitárias, seja desde a falta de um espaço físico minimamente acolhedor para seus filhos, a olhares e às vezes palavras repreensivas de colegas ou professores, da não percepção de que, férias não é sinônimo de produtividade, ou, da impossibilidade de entender que o home office não é igual para todos, porque nem todos os homes são iguais…

Este ensaio busca dar visibilidade às mães universitárias. Diversas mães aceitaram a proposta de me receber em seus locais de moradia e representar, com base na realidade do cotidiano, uma resposta a minha pergunta: “E se você tivesse que estudar agora, como seria?”. Por vezes, a realidade também tomou o lugar da representação.

Making of Silver Fever: mulheres e dissidências de gênero atrás das câmeras

Camila da Silva Marques (Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA)

Ano de produção: 2024

Quantidade de fotos: 10

Silver Fever é uma ação do projeto de extensão LAB&ART: Estudos e experimentações em Direção de Arte do curso de Cinema e Audiovisual da UNILA, onde 25 estudantes (re)criam figurinos, cenários, objetos e caracterização a partir da reutilização de produtos avariados, a fim de documentar processos de trabalho em um editorial fotográfico e um documentário audiovisual. Dentre as executoras do projeto, coordenado pela docente Camila Marques, estão 25 discentes sendo 20 mulheres (cis e trans, brancas, negras, latino-americanas e sul-africanas) e 5 pessoas da comunidade LGBTQIAP+. O objetivo desta exposição intitulada Making of Silver Fever: mulheres e dissidências de gênero atrás das câmeras, é desvelar questões de gênero no setor produtivo do audiovisual: indústria que está dentre aquelas com menor paridade de gênero e cor. Diversas pesquisas, de mercado e acadêmicas, demonstram o domínio de homens brancos nas principais funções de liderança ou técnicas, como direção, produção, direção de fotografia, edição e até direção de arte. O que objetivamos é mostrar o protagonismo feminino e de dissidências de gênero por trás das câmeras como protagonistas na contação de histórias audiovisuais.

Manifesto Bruxaria: A Noite das Caiporas

Marina Fernandez da Cunha (Universidade Federal da Bahia – UFBA)

Ano de produção: 2023

Quantidade de fotos: 5

Registros da festa clubber soteropolitana “Manifesto” que, no dia 14 de outubro de 2023, nos presenteou com a edição “Manifesto Bruxaria: A Noite das Caiporas”, homenageando a cultura brasileira e celebrando as vidas dissidentes. Dessa vez, contamos com sets de Grace Kelly, BADSISTA, Disfalq, Karmaleoa e Kay Okan. Assim também, com as performances artísticas de Spadina Banks, Barbie Quebra Nozes, Towanda Verde Frita, Verenna e Gana.

Margaridas Maranhenses

Alice Vieira Lima Cavalcante (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ)

Ano de produção: 2023

Quantidade de fotos: 10

Essa série registra mulheres da delegação do Maranhão na Marcha das Margaridas de 2023. O registro partiu do que chamo de campo de encontros, realizado em razão da trajetória de uma pesquisa de mestrado compartilhada com muitas mulheres, de forma que o processo se tornou um espaço permeado por relações de afeto e confiança. Fotografar o momento de marcha da 7ª edição, desta que é a maior ação de mulheres da América Latina, foi a oportunidade de ter um olhar atento à delegação de mulheres maranhenses que abriram alas para que as dos demais estados atravessassem o Eixo Monumental em Brasília. Mulheres rurais, quilombolas, agricultoras familiares, lideranças sindicais, em resumo, mulheres políticas realizando movimentos em defesa de seus direitos. Acreditando que a linguagem da fotografia pode ser complementar à pesquisa acadêmica, agradeço a generosidade e a confiança de todas que se abriram para minhas anotações e lentes nesse percurso. No olhar de cada uma delas é possível enxergar vivo o legado de Margarida Maria Alves, a quem dedico essas fotografias.

Marquei na Pele

Bruna Abreu dos Reis (Instituto Federal do Rio Grande do Sul)

Ano de produção: 2021

Quantidade de fotos: 11

Marquei na pele é um projeto que compreende a criação de um ensaio fotográfico e um vídeo experimental, inspirado no ensaio fotográfico “Feito Tatuagem” do fotógrafo Sergio Santoian e da artista plástica Louise Helène, utilizando como modelo Guilherme Abreu que tem seu corpo pintado com a palavra “viado” escrita de formas e ângulos diferentes, o ensaio foi realizado no dia 1 de agosto de 2021, na sala de um apartamento localizado no bairro Tijuca em Alvorada em um estúdio improvisado, utilizando uma Canon T100, um pano preto na parede e um set light de luz quente.

Possuímos muitas características, muitas delas são mutáveis, mas somos condenados pela única que não podemos mudar, marcada na pele como uma tinta permanente, ela é aquela que nos move e nos faz pertencentes a nós mesmos, esse ensaio busca ser um retrato de uma estrada que para muitos é só uma estrada comum, mas para a comunidade LGBTQIA+ é uma incerteza, pois vivemos à mercê dos perigos constante escondidos no meio do caminho.

Memórias do quintal: Vida e Trabalho das Mulheres Camponesas e Quilombolas no Brasil Rural

Renata Borges Kempf (Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS)

Ano de produção: 2019-2023

Quantidade de fotos: 10

As fotos expostas nesta coleção foram capturadas durante a elaboração da tese de doutorado intitulada “Saberes e fazeres de mulheres camponesas e quilombolas nas agriculturas: produzindo formas de resistências e existências”. Esta pesquisa investigou as práticas de trabalho e a transmissão de conhecimento entre mulheres camponesas e quilombolas em diferentes contextos. Utilizando o método etnográfico, a fotografia foi uma das principais ferramentas empregadas nos campos de pesquisa em Pinhão (PR) e Barra do Turvo (SP). Com a câmera em mãos, compartilhei o cotidiano das interlocutoras de pesquisa, registrando os momentos em que elas compartilhavam seus conhecimentos, demonstrando suas práticas de trabalho e dividindo histórias de vida. As fotografias selecionadas destacam mãos, rostos e paisagens que refletem seus trabalhos e lutas diárias. Espera-se que, assim como as pontes que conectam a comunidade no Quilombo Ribeirão Grande-Terra Seca, essas imagens conectem o público à luta dessas mulheres e que a ciência e a arte sejam, assim, ferramentas na luta pela regularização fundiária e pelos direitos das mulheres camponesas e quilombolas parceiras dessa pesquisa e em todo o Brasil.

Mulheres em Luta

Francys do Nascimento Silva (Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas – RENFA)

Ano de produção: desde 2010 até atualidade

Quantidade de fotos: 10

Fran Silva é Comunicadora, fotógrafa, fundadora e coordenadora de comunicação da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas, organizadora da Marcha da Maconha Recife desde 2010 e integrante da Articulação Nacional das Marchas da Maconha. Ativista antiproibicionista, venho desde 2010 construindo e registrando a luta de mulheridades em marchas, atos e no seu dia a dia. A fotografia me encontra, e entendo a necessidade de utilizar como ferramenta estratégica não só de denúncia e defesa, mas de garantir a partir de meu lugar de fala desconstruindo o colonialismo digital, hackeando linguagens através da fotografia. É sobre contar histórias silenciadas trazendo tudo isso em imagem . A proposta é levar para a exposição fotografia de mulheridades em marchas e em luta que venho acompanhando desde 2010, além de ofertar a exibição do documentário da RENFA que conta a história de como e quando mulheridades usuárias de drogas chegam na construção dessa Rede em diferentes Estados e territórios mas unidas em um único objetivo: o fim da guerra às drogas que tem o racismo como o pilar dessa desigualdade.

MULHERES-TERRITÓRIO: A re-existência de mulheres indígenas no Oeste da Bahia

Miléia Santos Almeida (Universidade de Brasília – UNB)

Marta Aparecida dos Santos Mamédio (Universidade FEderal do Recôncavo da Bahia – UFRB)

Ano de produção: 2021-2024

Quantidade de fotos: 10

A ancestral (re)existência das mulheres indígenas se traduz em sua atuação decisiva no chão das aldeias, na luta por seus territórios, na valorização da biodiversidade, na produção do bem-viver e na defesa de seus direitos. Na Bahia, terra pioneira não só da violência colonial, mas de uma voraz resistência, as indígenas mulheres ressignificam seus papeis de liderança e de cuidado, ao tempo em que conservam as tradições de suas antepassadas. Elas são importantes agentes da autossustentabilidade das aldeias através dos artesanatos de miçangas, cerâmicas e plantio de alimentos. Protagonistas das suas histórias, as indígenas do oeste baiano autodemarcam seus territórios e sua importância na luta e na defesa dos direitos. Com cinco cacicados regidos por mulheres e diversas lideranças femininas em todas as aldeias, enraizadas em uma região que é considerada o polo do agronegócio da Bahia, essas mulheres-território seguem descolonizando corações e mentes. Mulheres como Maria Kiriri, a segunda cacica do Brasil, em Muquém de São Francisco, ou a vice cacica Daniele Potiguara que ecoa “nós somos terra” para reivindicar um direito originário, protagonizam cenas da nossa mostra fotográfica.

Panaceia ancestral

Rita de Cássia de Almeida Souza (Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC)

Ano de produção: 2021

Quantidade de fotos: 10

Panaceia

planta macerada, simpatia

poção que se acredita poder curar todos os males

aquilo que se emprega para remediar toda e qualquer dificuldade

Substantivo feminino

“Tribadismo é uma panaceia ancestral e vale a pena”, disse um dia Cheryl Clarke, poeta negra mulher lésbica

mulheres negras companheiras amantes

Alquimistas do cotidiano

lambendo feridas e seios

curando dores indiagnosticáveis

com alimento presença calor

Acarinhando as paredes pedregosas de suas fendas mais profundas

para que nunca mais ressequem

O amor entre mulheres negras é ancestral

e vale a pena

Patrimônio feminino é memória da terra: não saio mais daqui nem mesmo morta

Maria Carmencita Job (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS)

Ano de produção: 2023

Quantidade de fotos: 10

Este ensaio é fruto da pesquisa de campo realizada para a minha tese de doutorado, no qual analiso as experiências de mobilidade de indivíduos urbanos da cidade para regiões rurais. 

Nesta etnografia visual apresento a memória da terra, como patrimônio feminino de Nonô Joris, uma mulher branca, citadina, jornalista de 52 anos que a vida toda morou na cidade de Porto alegre e que em maio de 2021, período de pandemia, foi morar no interior de Nova Petrópolis com seus três cachorros e dois gatos.

A pandemia virou a sua vida por completo e ter passado por uma condição de fragilidade financeira e emocional, fez com que refletisse atentamente sobre suas práticas e memórias e se descobrisse uma mulher do campo, como sua avó colona.

“A vida é muito louca, esta é a memória que tenho da minha vó, e que retomo tudo depois. Veja bem: a minha vó morava sozinha, muito parecido com que está acontecendo comigo agora. E depois nunca mais casou. Ela tinha vaca, porco, galinha. Cuidava de tudo sozinha, tinha só um empregado ajudando a cuidar de algumas coisas. Morava bem pra fora. Hoje esta é a minha vida. Eu sinto que este é o meu caminho, hoje eu estou no meu caminho.” (Nonô, 2023)

Pode ser que o azul lhe caia bem 

Manuela de Souza de A. Leite (Universidade de São Paulo- USP)

Ano de produção: 2021

Quantidade de fotos: 3

A imposição da máxima de que a boa “dona de casa” é a heroína do universo feminino não parou com a chegada das mulheres ao mercado de trabalho, ao contrário, o reforço do estereótipo “amar significa cuidar e servir”, continua a surtir efeito no século XXI. A grande diferença é que as mulheres, agora, devem ser bem-sucedidas profissionalmente, financeiramente independentes, mas, igualmente ao seu “passado arquetípico”, devem seguir devotadas às suas famílias. O trabalho doméstico não remunerado continua sendo majoritariamente feminino, a responsabilidade com a gestão da casa é da mulher. Então, mesmo as mulheres que obtêm seus rendimentos fora de casa e/ou do casamento, com bons salários, que lhes permitam contratar uma empregada doméstica, terão de se ocupar sozinhas da administração do lar, dos detalhes e planejamento da rotina e bom andamento da casa. “Pode ser que o azul lhe caia bem” tem como objetivo problematizar a vida prisioneira das jornadas de trabalho, acumuladas aos eternos retornos dos serviços domésticos, cuja responsabilidade foi culturalmente confiada à mulher.

Quadra de futebol: explorando sonhos entre as cercas

Bernd Bodewes 

Ano de produção: 2024

Quantidade de fotos: 10

As margens do campo de futebol oferecem um ponto de vista único para observar a dinâmica da comunidade do Morro da Babilônia, no Rio de Janeiro. Onde as crianças navegam pelos seus papéis e identidades dentro e fora do jogo. Nas fotografias, testemunhamos não só a agilidade física dos jogadores, mas também a resiliência e determinação espelhadas nas suas expressões. As crianças à margem assistem com os olhos arregalados, imaginando-se no meio da ação, enquanto as que estão em campo personificam o espírito de possibilidade e progresso. Entre os aplausos e as risadas, existe uma lembrança comovente das restrições impostas pela sociedade, simbolizadas pelas cercas do parque infantil. No entanto, neste espaço confinado, existe liberdade – liberdade para sonhar, desafiar e desafiar o status quo, assumindo a liderança como árbitro ou tornando-se o melhor jogador de futebol do mundo. Através das lentes destas fotografias, somos convidados a contemplar os paralelos entre o campo de futebol e o mundo mais vasto, onde a luta pela igualdade persiste e a procura de sonhos conhece os seus limites. A última imagem foi feita com câmera analógica.

Sobre cuidar.

Carla Angelini (Instituto Universitario Hospital Italiano de Buenos Aires – IUHIBA)

Ano de produção: 2023

Quantidade de fotos: 6

Juguemos. Miremos. Escuchemos. Acompañemos. Acariciemos. Conversemos. O sólo sentémonos al lado del otrx sin palabras de por medio. Esperemos a quien quedó relegadx y tendámosle la mano para caminar juntxs. Animemos a animarse. Riamos. Y lloremos. Resistamos las violencias, enfrentémoslas con amor como decía la maravillosa bell hooks. Socialicemos los cuidados; armemos redes. Socialicémonos en la afectividad, reconociendo los deseos propios y de lxs otrxs. Dejémonos cuidar. Mostremos nuestra vulnerabilidad; es parte de nuestra humanidad. Habrá otrxs que cuidarán de nosotrxs en ese momento y nos tomarán la mano. O se sentarán a nuestro lado a esperar en silencio que la tormenta pase.

Cuíde-les. Cuíde-se. Cuidémonos.

Sonhante

Leonardo Vinicius Fabiano (Universidade Federal de Maringá – UEM)

Ano de produção: 2021

Quantidade de fotos: 10

É preciso se embrenhar nas frestas, entre o sono profundo e a vigília, nas dores de levantar e o aguardo do descanso. O sonho, um sonho, qualquer sonho. Os lampejos de estímulos que ora dialogam conosco, ora nos confundem, de tal modo que diferenciar a vida e o sonho parece ser pouco possível. É por esse movimento, de esgueirar-se pelos entres, acionando na vigília um código onírico e implantando no sonho uma necessidade concreta, que outras narrativas podem surgir, menos afeitas ao molde estruturante das sujeitas. O que você sonha, além do que foi permitido sonhar? Quais vidas estão sendo gestadas no plano imaginário, que a realidade não tem sido capaz de criar? É transbordar e inundar o mundo com os jatos de ficção que criam a sua realidade. Tudo começa por uma fresta, uma fissura, pela qual passa uma gota de sonho, uma infiltração que desmonta de dentro pra fora e se faz ver por seus medos, seus prazeres, suas angústias e seus confortos, num convite sugestivo de que sonhemos juntas aquilo que não se ousou sonhar antes.

TRANSformando Luto em Lutas

Carol Esmanhotto (Pontifícia Universidade Católica)

Ano de produção: 2024

Quantidade de fotos: 10

Os registros aqui expostos, contam a história de um movimento incansável de luta e de TRANSformação que vem crescendo em Florianópolis. Sob o mote “Transformando Luto em Lutas”, as imagens produzidas aqui são testemunhas visuais do Ato 8M em Florianópolis e dessa força coletiva que somos.

Ao longo do trajeto, muita chuva e muitas lutas atravessaram as ruas de Florianópolis levantando sua voz, suas faixas, cartazes, crenças, arte e corpos diversos, chamando a atenção para diversidade e a inclusão que permeiam o movimento feminista na atualidade.

“Os feminismos devem se engajar em um diálogo ativo e inclusivo com a comunidade TRANS, reconhecendo que a luta pela igualdade de gênero só pode ser verdadeiramente eficaz quando abraça todas as identidades de gênero e se opõe a todas as formas de opressão de gênero.” – Judith Butler

Que estas imagens sirvam como testemunho do nosso compromisso inabalável de transformar luto em lutas, e que continuemos a marchar juntes, lado a lado, até que todas as vozes sejam ouvidas, todos os direitos sejam garantidos e todas as injustiças sejam erradicadas.

Tulpas – Do âmago do subconsciente à aquiescência do eu

Decchi Bottesi (Pontifícia Universidade Católica – PUC SP)

Ano de produção: 2023

Quantidade de fotos: 10

Tulpas surgiu em 2023 como um fotolivro de retratos para TCC, com propostas acadêmicas de explorar e reinterpretar estéticas e técnicas expressionistas e pictóricas do final do Século XIX e início do Século XX.

O projeto foi realizado por uma pessoa não-binária, pré-transição hormonal, ainda em fase de transição social e autodescoberta. As fotos utilizam os elementos expressivos do retrato (como vestimenta, maquiagens, adereços, máscaras e véus, e também da própria pós-produção das imagens) para explorar suas questões de autoafirmação de gênero, como o balanço das necessidades de se mostrar e se esconder: no impulso de se fazer visto, se omitir; na ânsia de se esconder, se revelar.

Por meio da criação de “personas” ou “tulpas” (em linhas gerais significando um “constructo mental independente”) os sujeitos das imagens utilizam em sua maioria roupas e adereços da fotógrafa, que passara a vestir durante sua transição social, em geral na companhia das pessoas retratadas.